A Religião, desde sua existência, tem desempenhado o papel de trazer respostas que satisfaça as preocupações e conforte o desespero do homem através de um conjunto de símbolos e dogmas que transmitam esperança. Com este conjunto de símbolos e dogmas, as classes sociais oprimidas se satisfazem e se inspiram, pois nisto encontram condições para a sobrevivência da vida social.
No início do século XX, período marcado por enormes mudanças sociais e avanços sociais na ciência, tecnologia e economia, era “o mundo pós guerra”, destaca-se também uma nova fase dentro da religião, um novo movimento que utiliza seus símbolos sagrados para construir proteção contra o caos, tendo como essência a força de seu poder para suportar os males da existência, ou seja, o movimento estava em paralelo com a situação conflituosa que a humanidade passava. Assim veio o pentecostalismo, com a missão de trazer esperança ao pobre.
Com origem nos Estados Unidos, o pentecostalismo é caracterizado como um movimento religioso criado com o objetivo de renovar o protestantismo tradicional. O principal líder do movimento foi Willian J. Saymor, filho de escravo, que ao estudar o livro de “Atos dos Apóstolos” fez com que acontecesse e se espalhasse a glossolalia (fenômeno de falar em línguas estranhas). Esta reforma religiosa foi marcada por reuniões inter-raciais, onde negros segregados, brancos e mulheres tinham a mesma oportunidade de se misturar ao movimento.
Divulgadores deste novo quadro protestante se espalharam pelo mundo, mais especificamente no Brasil em 1911 com a chegada de dois missionários suécos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, em Belém do Pará, fundando a Igreja Assembleia de Deus, que atualmente é a maior representante do pentecoste brasileiro. Neste mesmo ano, outro remanescente desde movimento, o italiano Luigi Francescon, fundo em São Paulo a Igreja Congregação Cristã do Brasil que carregava características pentecostais, porém na maioria das vezes é considerado como um movimento contraditório em virtude de seu fanatismo extremado ou até um sectarismo. Determina-se então como a raiz do pentecostalismo a Igreja Assembléia de Deus por ser uma instituição que com passar dos anos têm se adaptado às alterações do sistema de transformação do pentecostalismo.
É notável que a partir da segunda década do século XX, o movimento pentecostal vem crescendo em vários países em desenvolvimento. Esta expansão ainda é visível nas classes sociais onde a maioria dos indivíduos são mulheres e negros, com baixa escolaridade e renda.
“A primeira que recebeu o batismo com o Espírito Santo foi uma irmã preta como carvão mas lavada no sangue de Jesus”, e mais adiante, “ele é preto no exterior, mas por dentro lavado no sangue de Jesus.” (Gunnar Vingren)
Vários fenômenos da sociedade brasileira, ocorridos por volta do início do século XX, contribuiu para que o Brasil se tornasse a maior nação pentecostal do mundo, sendo o principal a realidade social do país. Um dos fenômenos em destaque foi a recente abolição da escravatura, faltava oportunidade de moradia e educação para o ex-escravo manter uma vida digna e o estado não oferecia condições para integrar o negro no mercado de trabalho. Neste período o país também passava por um processo de urbanização, era o tempo das elites oligárquicas, das revoltas tenentistas, da monocultura do café. Enfim, foi o período em que o oprimido pela ecônomia necessitava de um conforto, de um alívio para o caos, e uma instituição que lhe desse esperança foi sua melhor satisfação.
Em 2011 é comemorado o centenário do movimento pentecostal no Brasil e desde sua origem esta religião é caracterizada por um discurso que abriga a situação do pobre, do oprimido e dos leigos na sociedade, propondo soluções e conforto para sua realidade social. Além disso a mensagem pentecostal possui um vocabulário compatível com a língua dos ouvintes, possibilitando a procriação desse discurso pelas massas populares, que são considerados religiosamente ignorantes pelas igrejas tradicionais e católicas.
A integração social é outra característica marcante deste movimento. Os grupos menos favorecidos economicamente ou as classes de baixa renda, na maioria das vezes é privada de lazer e entretenimento, porém a igreja pentecostal faz com que o indivíduo se integre à essa comunidade religiosa, o qual não é característico das igrejas tradicionais, pois estas praticam projetos sociais, bons serviços à de uma maneira distante dos grupos pobres e da periferia, perdendo assim o público popular.
“Ao passo que as igrejas evangélicas tradicionais estabeleciam nos cultos uma distância entre pastores e simples fiéis e exigiam cursos especializados para funções de pastores, a organização pentecostal rompe com esta dicotomia entre letrados e não-letrados. Assim, não é a instrução que conta, mas o Dom do Espírito.” (Francisco Cartaxo Rolim)
Diante disso,percebo que é necessário ser feita uma análise concreta sobre o fenômeno expansivo de uma religião que exibe uma diferença em seus costumes e sua teologia, estando em paralelo com a desigualdade social presente na sociedade brasileira.